Projetos Educação com Pé no Sertão e Horta Pedagógica valorizam a convivência com o Semiárido

Educação contextualizada
Curaçá – BA

Em 1997 o município de Curaçá desenvolveu uma experiência histórica no campo educacional, através do projeto Escola no Nordeste: Educação com Pé na Realidade Nordestina, para todos e com qualidade, cujo foco central foi a formação dos educadores/as a partir da proposta de educação para convivência e reorientação curricular. O projeto aconteceu através de uma parceria estabelecida entre a Prefeitura Municipal de Curaçá, o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada-Irpaa, o Unicef e o Departamento de Ciências Humanas- UNEB/campus Juazeiro.

Como desdobramento desse processo, foi construída a proposta político-pedagógica do município, intitulada Educação com Pé no Chão do Sertão, baseada nas ações de convivência com o Semiárido. Além disso, um resultado significativo foi a elaboração de 4 livros paradidáticos, envolvendo temas como: brincadeiras infantis, cantigas de roda, causos, relação com o  meio ambiente e convivência com o Semiárido no município de Curaçá. Essa experiência foi uma das que mais contribuíram para a criação da Rede de Educação do Semiárido (Resab).

Sendo assim, muitas outras ações têm sido desencadeadas a partir desse processo. Neste sentido, outro projeto que está sendo desenvolvido desde julho/09 no distrito de São Bento, Curaçá, é o de Hortas Pedagógicas em escolas. Projeto este que está inserido em uma estrutura maior, o Mata Branca. O projeto Mata Branca atua nesta região desde 2007 e tem como principal objetivo contribuir com os municípios onde a caatinga se encontra devastada e em processo de desertificação, considerando todos os aspectos de preservação da fauna e da flora. Atualmente, abrange na Bahia os municípios de Curaçá, Contendas do Sincorá, Itatim e Jeremoabo.

No município de Curaçá, em função da extração desordenada da casca de angico (planta nativa da região com alto teor medicinal), bastante utilizada pelos artesãos que curtem o couro na própria região e áreas circunvizinhas. Busca a gestão sustentável do bioma caatinga, e juntamente às comunidades vislumbrando alternativas de preservação do bioma e incentivando o resgate expressões e formas culturais que de alguma forma tenham se perdido no tempo e com o tempo.

A implantação da horta pedagógica nas escolas traz um enfoque de caráter educativo, orientada pelos princípios da Agroecologia, com o intuito de traçar estratégias de desenvolvimento sustentável, respeitando as diversidades da região que incidam sobre a melhoria da qualidade de vida da população, com estímulo à produção de alimentos sadios.

O objetivo dessa experiência é tornar a escola um espaço de aprendizagem significativa, tendo como ponto de partida a identidade e a comunidade local, possibilitando criar e/ou ampliar o vinculo entre as pessoas e natureza, e estimulando relações mais sustentáveis. 
As atividades desenvolvidas incluem a formação continuada dos educadores/as, formação da comunidade local, construção de cisterna de produção, implantação das hortas e visitas nas escolas. Estas ações estão inseridas no projeto Mata Branca, em parceria com o IRPAA, e a Secretaria Municipal de Educação.

As dificuldades que estão sendo vivenciadas dizem respeito ao contexto da comunidade, na qual a escola está inserida. Infelizmente, ainda existe uma prática na localidade que é a retirada da casca do angico e a caça de animais silvestres de maneira predatória. Neste sentido, acredita-se que a sensibilização na escola e na comunidade provoque mudanças sobre a relação das pessoas com o meio ambiente.

Mas, as dificuldades não emperram a convocação de vontades para interferir nos processos da comunidade escolar e não escolar. A Horta Orgânica Pedagógica propicia o envolvimento da comunidade, a mudança na vida da escola, sendo um instrumento que possibilita às crianças o contato com os elementos do ambiente natural, estabelecer relações com a terra, desenvolver valores importantes de convivência, onde elas mesmas são responsáveis pelos resultados de aprendizagem, cuidando melhor do meio ambiente, das pessoas e de si mesma.

Com este trabalho, alunos/as, professores/as e comunidade passam a desenvolver o respeito pela natureza, o cuidado com o meio ambiente, criando uma cultura no hábito alimentar, na perspectiva de se produzir e consumir alimentos mais saudáveis, além de ser uma forma de validar a sabedoria dos agricultores e agricultoras. Conforme diz Juca, professor de Geografia da comunidade de São Bento: “Eu vejo um Nordeste viável onde tem de tudo um pouco, desde a criação de animais, mulheres e homens trabalhadoras e trabalhadores e muita água quando chove. O que falta é política de gerenciamento dessa água” .

Esta proposta é uma estratégia para discutir outras possibilidades de convivência com o meio ambiente natural e social, criando espaços de aprendizagens diversas, com possibilidades metodológicas multi e transdisciplinar, onde o contexto sociocultural dos  estudantes é o ponto de partida que direciona e conduz a ação.

1 Responses to Projetos Educação com Pé no Sertão e Horta Pedagógica valorizam a convivência com o Semiárido

  1. […] Projetos Educação com Pé no Sertão e Horta Pedagógica valorizam a convivência com o Semiárido… […]

Deixe um comentário